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Você é normal? Coaching para sair da Normose!

Além da depressão, ansiedade e tantos outros males da modernidade, há um chamado “Normose”. Um conjunto de hábitos considerados normais e que, na realidade, nos levam à infelicidade e à doença.

Além da depressão, ansiedade e tantos outros males da modernidade, acredito que uma patologia marcante que vivemos é a “Normose”. Normose é um termo explorado por Pierre Wiel, Jean-Yves Leloup e Roberto Crema para designar a patologia da normalidade. Segundo Pierre Weil, Normose é o conjunto de hábitos considerados normais e que, na realidade, são patogênicos e nos levam à infelicidade e à doença.

Para Weil, quando todas as pessoas se colocam de acordo a respeito de uma opinião ou uma atitude e maneira de atuar, manifesta-se um consenso, que dita uma norma. Quando uma norma é adotada por muitos, cria-se um hábito. Nesse sentido, há uma crença bastante enraizada segundo a qual tudo o que a maioria das pessoas sente, acredita ou faz deve ser considerado normal. Nesse sentido, toda Normose é uma forma de alienação.

Nessa linha, podemos considerar normal:

  • Acordar cedo e sair correndo para o trabalho;
  • Passar mais de 2 horas ao longo do dia num trânsito infernal, dentro de um carro, ônibus ou trem;
  • Viver de reunião em reunião, mesmo sabendo que muitas delas não precisariam acontecer e um bate-papo rápido por telefone/Skype resolveria;
  • Trabalhar 10,12,14 horas por dia;
  • Acessar e-mails no final de semana e durante o jantar;
  • Programar nossas férias e tempo com a família baseando-nos nas prioridades da agenda da empresa em que trabalhamos;
  • Almoçar uma barra de cereal ou um lanche do Mc Donalds porque uma reunião foi marcada para o horário do almoço. Ou (pior) começou às 9h e ainda não acabou;
  • Comer alimentos transgênicos, legumes com agrotóxicos, etc;.
  • Sentar numa mesa de bar depois de um dia intenso de trabalho e ficar falando sobre trabalho;
  • Passar a maior parte do nosso dia olhando para a tela de um computador;
  • Morar dentro de um apartamento, trabalhar dentro de blocos de concreto e no final de semana ir ao shopping (o grande caixote de concreto);
  • Morar num prédio há anos e nunca ter um diálogo autêntico com algum vizinho;
  • Ir para um bar com vários amigos e ver que quase todos estão organizando outros encontros pelo Whatsapp ou curtindo algo na Facebook;
  • Chegar em casa e ligar a televisão;
  • Falar “Oi, tudo bem?”, mas na verdade não querer saber como a outra pessoa está;
  • Acreditar que trabalhar muito é para a felicidade dos filhos no futuro e esquecer que eles estão em casa te esperando no presente;
  • Achar que o curso de graduação é o que irá definir nosso futuro profissional;
  • Conceituar que trabalho é algo a ser feito dentro de um escritório das 8h às 17h;
  • Acreditar que um bom plano de carreira é o que nos trará felicidade (e esquecer da nossa vocação);
  • Separar vida pessoal e profissional, como se fôssemos um indivíduo fragmentado;
  • Se sentir infeliz no trabalho e continuar nele (isso é o mais normal);
  • Crer que existe um único trabalho e caminho para ser percorrido ao longo da vida e deixarmos de testar nossos diversos “EUs”;
  • Acreditar que é preciso sempre ter foco, só porque na livraria tem uns 10 livros com o título “O poder do foco”;
  • Achar que o formato tradicional de emprego é sinal de estabilidade e segurança;
  • Usar roupas desconfortáveis só porque somos avaliados pela imagem no mundo corporativo;
  • Responder a pergunta “Quem é você?” dizendo o cargo que ocupa;
  • Achar que cesárea é normal (essa a incoerência está até no nome);
  • Deixar um bebê de 4 meses com uma babá ou num berçário. * Esse é um ponto muito especifico do momento que estou vivendo e vale fazer uma ressalva. A grande maioria das mulheres não tem escolha e nem opção! Realmente precisam fazer isso. Admiro a coragem dessas mulheres e imagino o quanto deve ser difícil voltar ao trabalho nessas condições (de verdade). O ponto não é fazer isso. O ponto é fazer isso e achar normal, não se inquietar. Ou como diz Marina Colasanti, a gente se acostuma, mas não devia.

E por aí vai… (convido cada um a continuar essa lista de “normoses”).

Bom, mas o título desse artigo é “Coaching para sair da normose”. Então, vamos ao que interessa. De certa forma, a normose nos ajuda a permanecer em nossa zona de conforto. É muito mais confortável seguir um caminho que todo mundo segue. Certamente, não seremos questionados e isso nos proporciona mais segurança. Todavia, o processo de Coaching busca tirar o individuo da sua zona de conforto em direção à sua zona de tensão. É na zona de tensão que a transformação acontece. É na zona de tensão que saímos um pouco da normose.

Então, quando uma pessoa passa por um processo de Coaching, ela certamente será desafiada a investigar o que é realmente dela (está na sua essência) e o que foi dado pelo outro (aspectos que ela incorporou ao longo da vida pela influência de seus pais, amigos ou porque a maioria das pessoas fazem). O processo estimulará a identificação dos seus valores autênticos e o questionamento dos valores introjetados (desenvolvidos pelos outros).

Nesse contexto, num espaço de liberdade, ela criará sua própria definição de felicidade, sucesso, trabalho e deixará de seguir os padrões ditados pelos outros, pela maioria, pelo que é o normal. Assim, o ponto não é se o trabalho é algo a ser feito das 8h às 18h dentro de um escritório e sim se ela realmente acredita nesse formato, se faz sentido ou se apenas segue esse modelo porque é normal. Se ela realmente acredita nesse modelo, então ela não sofre de normose. Se ela não acredita nesse formato, mas segue-o, há indícios de normose. Sair da normose é permitir que criemos nossos próprios conceitos de trabalho, felicidade e outras dimensões que foram cristalizadas pelo senso comum.

Outro ponto é que o processo de Coaching cria uma atmosfera de liberdade na qual sair da normose é mais fácil. Numa sessão não há espaço para julgamento, para certo ou errado. Num encontro de Coaching existe um diálogo autêntico, sem máscaras, onde a nossa essência pode fluir. É o oposto do que acontece naqueles encontros inundados pela normose. Conversas “normóticas” são aquelas nas quais falamos mais do mesmo, repetimos padrões e muitas vezes deixamos de ser real para não sair da normalidade (ou por preguiça, porque tem gente que dá preguiça).

É tempo de sairmos da normose. Devemos fugir dessa armadilha que nos faz acreditar que normal é o que a maioria das pessoas fazem. Ao invés de fazermos a pergunta: “Esse caminho é normal?”, temos que perguntar: “Esse caminho tem coração?”. Como diz Carlos Castaneda:

Qualquer caminho é apenas um caminho e não constitui insulto algum
– para si mesmo ou para os outros –
abandoná-lo quando assim ordena o SEU coração.

Olhe cada caminho com cuidado e atenção.
Tente-o tantas vezes quantas julgar necessárias.
Então, faça a si mesmo e apenas a si mesmo uma pergunta:
Esse caminho tem coração?

Em caso afirmativo, o caminho é bom. Caso contrário, esse caminho não possui importância alguma.

Roberto Crema afirma que “é tempo de conspirar pela nobreza e inteireza do projeto humano.” Não precisamos ser normais, precisamos ser inteiros. Jung já alertava que ser normal é a meta dos fracassados.

É por isso que quando estou conversando com uma pessoa e ela me diz: “Ai Taynã, você não é normal!”. Fico feliz e respondo: “Graças a Deus! Desse mal eu não sofro mais.” A gente se acostuma a ser normal, mas não deveríamos.

Observação:

Apenas a título de curiosidade, a inspiração para escrever esse artigo surgiu durante um passeio num bosque que fica ao lado de casa (foto acima). Saí de casa por volta das 8h30 da manhã com a minha filha Clara e com minha cachorra Luz. Tinha levantado, feito a minha meditação e estava animada para o passeio da manhã. Quando saí, a rua de casa já estava repleta de carros. Grande parte das pessoas estavam indo para o trabalho. Afinal, é normal todo mundo trabalhar no mesmo horário. Durante o caminho para o bosque, observava dentro dos carros e via algumas pessoas tomando suco, outras no celular, outras se maquiando e outras simplesmente dirigindo. Tinha carros com crianças chorando no banco de trás e a mãe com um certo desespero no banco da frente (sei bem o que é isso!). No geral, os rostos dessas pessoas não transmitiam um ar de leveza. Perto da rua principal o trânsito parou e uma senhora ficou numa faixa destinada a quem vai para a direita. Um homem no carro atrás dela estava nitidamente irritado e deu aquela buzinada.

Continuei meu caminho até o bosque. Quando entrei no bosque uma sensação de leveza e plenitude inundou a minha alma. Andando com minha filha e minha cachorra, me sentia feliz por estar ali e não por estar naqueles carros. E percebi que não sofria de “normose”! Porque há algum tempo fazer isso me deixava com um certo sentimento de culpa. Como podia todo mundo estar a caminho do trabalhado e eu fazendo isso? Seria a ética protestante e o espirito do capitalismo que nos fazem pensar que trabalho árduo é o que realmente significa trabalho? E a sensação que tive a cada passo foi a de estar absolutamente no lugar certo. As escolhas que fiz ao longo dos últimos anos me trouxeram até ali.

Decidi não seguir carreira dentro de uma empresa, abandonei a ilusão de ser uma diretora (e ainda de Marketing!). Nada contra diretores de Marketing, apenas não faz sentido para mim (conheço pessoas queridas e bem realizadas nessa posição). Optei por ser empreendedora. Mas, isso não foi o suficiente, queria de alguma forma ajudar e trabalhar com pessoas, então me dediquei também à atividade de Coach. No caminho descobri a paixão pela vida acadêmica e pelo conhecimento, porém só estudar não fazia sentido. Então, surgiu a oportunidade de dar aulas e palestras. E hoje, com esses múltiplos “EUs” que me fazem inteira, não preciso estar dentro daqueles carros. Tenho autonomia e liberdade para exercer minha vocação no mundo, trabalhar com o que faz sentido, ganhar meu dinheiro, estar presente no desenvolvimento de cada fase da minha filha e passear no bosque pela manhã sem qualquer sentimento de culpa. Isso é normal, não?

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