Em diversas situações você provavelmente já se sentiu como Sísifo, empurrando uma grande pedra incessantemente montanha acima apenas para vê-la rolar para baixo e ter que começar tudo de novo. Repetindo as mesmas atitudes, os mesmos padrões de comportamento e revivendo as mesmas situações e relacionamentos, tanto no trabalho como na vida pessoal.
Cientistas sociais explicam esse comportamento por meio de um princípio chamado de “Felicidade de Referência”. Nós estamos habituados a certo nível de felicidade, seja ele baixo ou alto, ao qual sempre acabamos voltando, inconscientemente, após qualquer conquista.
Após os momentos de grande êxtase, aquelas velhas e conhecidas vozes que te acompanharam a vida inteira começam a voltar:
“O que há de errado comigo?” Toda vez que você se condena por erros do passado ou por falhas que cometeu naquele projeto importante.
“O que há de errado com fulano?” Sempre que você emite julgamentos sobre as pessoas, criando ideias de valor de inferioridade ou superioridade.
Ou ainda “O que há de errado com o meu trabalho?” Ou “O que há de errado com o meu ambiente familiar” nos momentos em que você passa a ver as circunstâncias ou resultados como ruins.
Esses pensamentos que te levam constantemente a procurar defeitos em você mesmo, nos outros e nas circunstâncias são os responsáveis pelos sentimentos de decepção, raiva, arrependimento, culpa, vergonha e ansiedade, que, muitas vezes, você nem sabe explicar muito bem de onde vêm.
E assim, de modo inconsciente, os pensamentos e sentimentos se retroalimentam gerando os comportamentos repetitivos e você gasta toda a sua energia e saúde emocional tentando empurrar as mesmas pedras montanha acima.
Por que eu tenho pensamentos destrutivos?
Esses pensamentos se originaram da necessidade de sobrevivência primitiva do Homem.
Nos ambientes primitivos hostis a sobrevivência era uma das principais questões para os seres humanos. E, diferentemente dos outros animais, além da sobrevivência física, há ainda a esfera emocional.
Então, os pensamentos destrutivos, desde a infância, eram os responsáveis por nos auxiliar a enxergar os perigos do ambiente, por exemplo, e nos orientar em tomadas de decisão do tipo enfrentar o perigo ou fugir dele.
Atualmente, esses pensamentos ainda mantêm sua característica original de manutenção da sobrevivência, no sentido de nos manter vivos até os 21 anos para nos reproduzirmos e passarmos adiante nossos DNAs e garantir a sobrevivência da espécie.
Dessa forma, por estarem tão intimamente relacionados à conservação da espécie, em diversas situações, os pensamentos destrutivos passam despercebidos, ou pior, podemos até acreditar que eles são nossos aliados e nos protegem de nos tornarmos seres preguiçosos e acomodados.
Claro que cada pessoa desenvolve características particulares em resposta às suas necessidades específicas de sobrevivência, mas, como podemos entender, esse tipo de pensamento é universal. De uma forma ou de outra, todos possuem. É daí que vem a predisposição a enxergar o negativo das coisas e a supor o pior diante das diversas situações.
Os impactos dos pensamentos destrutivos
Quando focamos essa energia destrutiva em nós mesmos, sob a forma de pensamentos como “eu não sou bom o suficiente” ou “eu não sou capaz”, o impacto direto que sentimos em nossas vidas é a falsa ideia de que não somos dignos de amor e respeito apenas por sermos quem somos.
Então, passamos a acreditar que é necessário estar constantemente provando que somos merecedores do amor e respeito dos outros. Em outras palavras, receber o amor está sempre condicionado a algum fator externo a você.
Esse tipo de pensamento nos induz a acreditar que só somos capazes de tomar as melhores decisões se estivermos sob pressão ou por medo de sentimentos como culpa, vergonha ou por causa de possíveis consequências negativas e, que se não agirmos dessa maneira seremos de certa forma preguiçosos ou até irresponsáveis ou egoístas.
Se a energia destrutiva estiver focada nos outros, as consequências são igualmente prejudiciais, causando conflitos nos nossos relacionamentos pessoais e profissionais.
Uma das formas mais perigosas que essa energia adquire, no entanto, é quando direcionada às circunstâncias e eventos de nossas vidas. Passamos a ver nossa realidade como deficiente e começamos a emitir pensamentos como “Só serei feliz quando…”
Aqui há duas mentiras altamente destrutivas. Que é impossível ser feliz nas atuais circunstâncias.
O “quando” é sempre um alvo em movimento, ou seja, nunca é um ponto no qual iremos chegar. Nosso cérebro acaba sempre renegociando esse “quando” tornando a felicidade um objeto inalcançável e uma eterna e constante situação de infelicidade.
A situação se agrava ainda mais quando essa renegociação se dá em função de comparações com as vidas de outras pessoas. Por exemplo, eu afirmo para mim mesma que só serei feliz quando ganhar R$ 6.000 por mês. Porém, minha melhor amiga está ganhando R$ 10.000 mensais. Então, eu renegocio o meu “quando” na tentativa de superar a felicidade do outro e estipulo que o valor real que eu preciso para ser feliz é de R$ 12.000. E assim por diante, com cada uma das situações, sejam profissionais ou pessoais.
Como diferenciar o pensamento destrutivo do poder de discernimento
É claro que há uma grande diferença entre o poder de discernimento dos seres humanos e a necessidade de crítica constante dos pensamentos destrutivos. O que diferencia um ato de outro está nas emoções que sentimos ao fazê-las.
Enquanto o discernimento vem com a sensação de análise calma e racional dos fatos ou de alguma situação ou decisão que trouxe impactos negativos com o objetivo de descobrir qual o melhor caminho para superar, os pensamentos destrutivos vêm acompanhados de aborrecimento, decepção, ansiedade e ressentimento.
Por isso, preste atenção às situações em que os pensamentos destrutivos tomam conta da sua mente e quais as emoções que eles trazem para identificar o que realmente está por trás desses pensamentos.
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