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Você prefere líder sem ambição ou carismático?

A escolha de alguém com pouca (ou nenhuma) ambição para posição de liderança faz ou não sentido? Líderes despretensiosos ajudam a construir autoestima, a ir além das expectativas e canalizar esforços individuais para o bem do coletivo, mas o que se vê na prática é algo diferente.

Depois de um período explorando a temática do estresse e da depressão, eis que volto a provocar os leitores questionando se a escolha de alguém com pouca (ou nenhuma) ambição para posições de liderança faz ou não sentido. Como sempre dou crédito às minhas fontes de pesquisas e informações, o estudo original publicado neste mês na Harvard Business Review é de Margarita Mayo (margaritamayo.com), professora de Liderança e Comportamento Organizacional, em Madri.

O artigo começa por comentar que, quando escolhemos pessoas humildes e despretensiosas como líderes, o mundo à nossa volta se tornará um lugar melhor. Eles melhoram o desempenho de uma empresa no longo prazo porque criam ambientes mais colaborativos. Esses líderes têm visão equilibrada de si mesmos – nas virtudes e deficiências – e uma forte apreciação de outros pontos fortes e possíveis contribuições, ao mesmo tempo em que estão abertos a novas ideias e feedback.

Os líderes despretensiosos ajudam os subordinados a construírem autoestima, a irem além de suas expectativas e criarem a comunidade que canaliza esforços individuais para o bem do coletivo. Um estudo com 105 pequenas e médias empresas de software e hardware evidenciou essa conclusão. Outro estudo mostrou que a humildade do líder pode ser contagiosa, pois os seguidores tentam imitar seu comportamento.  E ainda outro estudo, com 161 equipes, descobriu que líderes humildes motivam as pessoas a admitirem erros e limitações, bem como estar abertos a ouvir conselhos.

No entanto, o que se vê na prática é a busca do líder “super-herói”, cheio de carisma. A palavra grega Kharisma significa “dom divino”, com o carisma sendo a qualidade de charme extraordinário, magnetismo e presença que tornam alguém capaz de inspirar os outros com entusiasmo e devoção. O sociólogo alemão Max Weber definiu o carisma como de origem divina e, com base nele, a pessoa passa a ser tratada como um líder. As evidências da pesquisa sobre a liderança carismática revelam que essas pessoas têm maior probabilidade de serem endossadas como líderes.

Alguns autores têm colocado esse pensamento simplório e linear em discussão. Há um entendimento de que os líderes carismáticos podem ser propensos ao narcisismo, levando-os a promover objetivos egoístas. Margarita comenta sobre um estudo clínico mostrando que, quando o carisma se soma com o narcisismo, esses líderes tendem a abusar do seu poder e tiram proveito de seus seguidores. Outro estudo indica que líderes narcisistas tendem a apresentar visão ousada do futuro, tornando-se ainda mais carismáticos aos olhos dos seus seguidores.

Outra evidência é que, apesar de esses líderes serem vistos como arrogantes, irradiam a imagem de competentes, mesmo que isso não se confirme posteriormente. Conforme a conclusão dada por Margarita, nós todos temos certa tendência a entender os eventos sociais em termos de liderança e a romantizar a figura do líder carismático. Ela conclui por afirmar que, pelas suas próprias pesquisas, os estados psicológicos de quem analisa também podem influenciar nas percepções de líderes carismáticos. Altos níveis de ansiedade nos fazem sentir desejo de carisma, fortalecendo a busca de novos líderes carismáticos e a avançar na relação com as lideranças com quem já convivemos.

O paradoxo é que podemos então escolher apoiar os líderes “humildes e despretensiosos”, que são tidos como menos propensos a ter sucesso. Em um momento de crise, é fácil ser seduzido por super-heróis que podem vir e nos resgatar, mas que possivelmente irão criar outro tipo de riscos e perigos no futuro. Margarita afirma, na sua conclusão, que há outra maneira de ver essa questão, assumindo que escolhemos os “lideres que merecemos ter”. Ao selecionarmos e construirmos líderes para satisfazer nossas próprias necessidades e desejos, podemos escolher entre a humildade ou o carisma socializado para, depois, arcar com a decisão e suas consequências.

Mario Divo Author
Mario Divo possui mais de meio século de atividade profissional ininterrupta. Tem grande experiência em ambientes acadêmicos, empresariais e até mesmo na área pública, seja no Brasil ou no exterior, estando agora dedicado à gestão avançada de negócios e de pessoas. Tem Doutorado pela Fundação Getulio Vargas (FGV) com foco em Gestão de Marcas Globais e tem Mestrado, também pela FGV, com foco nas Dimensões do Sucesso em Coaching (contexto brasileiro). Formação como Master Coach, Mentor e Adviser pelo Instituto Holos. Formação em Coach Executivo e de Negócios pela SBCoaching. Consultor credenciado no diagnóstico meet® (Modular Entreprise Evaluation Tool). Credenciado pela Spectrum Assessments para avaliações de perfil em inteligência emocional e axiologia de competências. Sócio-Diretor e CEO da MDM Assessoria em Negócios, desde 2001. Mentor e colaborador da plataforma Cloud Coaching, desde seu início. Ex-Presidente da Associação Brasileira de Marketing & Negócios, ex-Diretor da Associação Brasileira de Anunciantes e ex-Conselheiro da Câmara Brasileira do Livro. Primeiro brasileiro a ingressar no Global Hall of Fame da Aiesec International, entidade presente em 2400 instituições de ensino superior, voltada ao desenvolvimento de jovens lideranças em todo o mundo.
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